Todo ser humano, desde a infância, tem uma motivação básica: procurar ver-se como alguém dotado de valor positivo. Busca, durante toda a vida, o reconhecimento de suas qualidades pelos outros, o respeito às suas opiniões e idéias. Julga a si mesmo comparando-se a ideais de como deveria ser. Tenta agir de acordo com o que aprendeu ser certo e bom. Busca ser amado e admirado. Quer ter sucesso em suas ações. Defende-se vigorosamente de humilhações.
Roger Perron, vinculando a consciência de si a uma qualidade sempre valorativa, escreve: “as imagens de si são construídas como conjunto de valores. Todas as características pelas quais o sujeito pode se definir são, com efeito, sentidas, em graus diversos, como desejáveis ou não. E há mais: no mais íntimo da consciência de si – do sentimento de ser um Eu, distinto de todos os outros – reside a sensação de ser valor como pessoa".
E quais os valores atribuídos atualmente às pessoas com excesso de peso? Como definimos - e se definem - tais pessoas, em termos de valor pessoal?
Os obesos têm que lidar, o tempo todo, com a exposição excessiva de sua "fraqueza", ou seja, de seu corpo acima do peso. Exposição constante aos olhos de uma sociedade cheia de preconceitos, e de si mesmos, também cheios de preconceitos. O gordo é visto, apontado, julgado, discriminado, ridicularizado, desacreditado. A suscetibilidade à vergonha é muito grande; o corpo o faz visível, literalmente, e sujeito, o tempo todo, às avaliações dos outros.
Na realidade, a crença em relação à virtude da restrição alimentar está presente em todos nós. De certa forma, pensamos a intemperança como sinal de fraqueza moral e, no âmbito alimentar, ela está em igualdade moral com outras formas de transgressão. A gula nos ofende. Além disso, em nossa época e em nossa cultura, existe uma clara valorização do corpo, do ponto de vista da aptidão física e do ponto de vista da interação social. À valorização do corpo se contrapõe a condenação dos corpos discrepantes ou desleixados. Das academias às clínicas de estética, passando pela voga dos regimes e das cirurgias plásticas, os instrumentos e serviços criados para aumentar a saúde e embelezar as aparências fazem muito sucesso na população em geral.
As mulheres atualmente ainda enfrentam o problema social da gordura e da magreza mais do que os homens. Tem a ver com a disponibilidade do corpo feminino ao olhar público, o sentimento de impotência e a necessidade de aprovação que enfrentam em nossa sociedade. Qualquer mulher cujo corpo não se aproxime da limitada recomendação imposta pela cultura tende a se sentir vulnerável e em desvantagem. Não apenas em termos de estética: mas em termos de seu valor como pessoa.
2 comentários:
sabe, Lia, fico me perguntando, ás vezes, o por quê de tanta luta contra "ser gorducho"...se toda a nossa maneira de viver atual leva para este caminho - ser mais gordo - como lutar contra a sociedade inteira para atingir um modelo ultrapassado? Acho que estamos passando por uma época de transição: sobrevivem os corpos que se adaptam à esta nova realidade! Ou, então, a sociedade se conscientiza e entra censura na mídia de alimentos, quebra-se os computadores e todos os carros para que as pessoas tenham que andar, ilimina-se o telefone sem fio, etc..etc..etc..Do jeito que estamos lutando hoje contra nós mesmos, é um pesadelo...nadamos contra uma maré e ainda nos sentimos culpados! Qdo socialmente os alimentos, assim como bens materiais, forem distribuídos de maneira igual entre as populações e indivíduos, aí talvez conseguiremos o verdadeiro padrão de beleza...Se não, daqui a alguns anos, penso eu, as populações serão divididas entre os obesos e os sub-nutridos assim como os podres de ricos e os miseráveis!
Eu acho que o olhar dos outros é importante e não podemos negar. E acho que o nosso olhar sobre nós é mais cruel ainda.
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