sábado, 30 de junho de 2012

Meditemos


Zen é vida. Portanto, comer é indispensável para o Zen. No que se refere ao ato de comer, devemos considerar três elementos: os ingredientes, o modo de fazer e a pessoa que come.

Nas receitas, no entanto, as medidas não são precisamente determinadas. O fundamental para quem vai cozinhar é a liberdade de criar e se expressar na execução de cada prato. A harmonia entre os sabores é algo que o cozinheiro deve buscar, liberto de receitas com valores exatos.

Se os seis sabores (amargo, azedo, doce, quente, salgado e suave) não estiverem em harmonia e à comida faltarem as três virtudes (suavidade, limpeza e formalidade), então a oferenda do Tenzo (monge cozinheiro) à congregação não estará completa.

Se o Sodô, o templo da meditação, é considerado essencial para a vida monástica, a cozinha é tida no mesmo nível de importância e também é considerada um templo, o Tenzoryo. Se no primeiro, alimenta-se a mente, no segundo alimenta-se o corpo. Para os budistas, um não existe sem o outro.

As refeições são realizadas sempre em silêncio. O trato com o Oryoki (conjunto de tigelas) segue um código sofisticado, que chama a atenção do praticante para aquilo que está fazendo no momento. Os monges budistas seguem uma seqüência ritualizada de procedimentos, com atenção voltada a cada detalhe. Cada um deles leva consigo seu próprio conjunto de utensílios, embrulhado em uma trouxinha de pano. São feitas preces e reverências antes, durante e ao término da refeição, quando as tigelas e talheres – que foram delicadamente lavados à mesa – voltam a ser envolvidos na toalhinha de pano.

Os gestos precisos e detalhes harmoniosamente coreografados exigem atenção máxima. Alimenta-se usando todos os sentidos, degustando a variedade de sabores, temperaturas, a fragrância que exala do prato, o movimento da mastigação.

Oryoki (do japonês ooryooky) significa “tigela”, mais precisamente, uma tigela do tamanho do estômago. A relação entre tigela e estômago já transmite a idéia de equilíbrio, de se alimentar do necessário e na quantidade que o corpo precisa – nem mais, nem menos.

Monja Coen ressalta que “o oryoki é uma prática meditativa na medida em que estou comendo com plena atenção. Estou em silêncio, sentindo a fragrância e o sabor dos alimentos. Percebi a rede de interdependência de todas as formas de vida”.

Todos os procedimentos são realizados com as duas mãos. Não se pega uma tigelinha com uma das mãos, enquanto a outra manuseia os hashis, por exemplo. O foco tem de estar totalmente voltado para o que se está fazendo, o que naturalmente demanda mais atenção. “Isso tudo é treino de meditação”, diz a monja. Por mais complexa que pareça, a prática do oryoki traz um benefício simples: o reencontro com a paz no momento da refeição. A idéia é deixar tudo o que não for inerente à alimentação bem longe da mesa.
(Fontes: www.mosteirozen.com.br; Revista Meditação)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Grelina, Estresse e Depressão





Mais um estudo que relaciona o estresse ao aumento da ingestão alimentar!

Parece que a grelina, conhecida como o "hormônio da fome", não é secretada apenas quando os estoques de energia do corpo estão baixos. Sua liberação também ocorre em resposta a estímulos estressores.

Faz sentido, já que geralmente situações de estresse exigem que o organismo gaste mais energia. O estresse crônico leva, então, a níveis cronicamente elevados desse hormônio, juntamente com um aumento do apetite e ganho de peso.

Viu-se, porém, que quando os receptores de grelina são bloqueados farmacologicamente, os indivíduos ficam mais suscetíveis a comportamentos depressivos em face a situações de estresse. Ou seja, embora a secreção de grelina em resposta ao estresse possa levar ao aumento da fome e ao comer em excesso, organismos que não obtêm tal resposta podem ser mais propensos a desenvolver sintomas de depressão quando estressados.

Interessante!






quinta-feira, 28 de junho de 2012

Probleminhas...

Alguns problemas comuns que dificultam muito a perda de peso nos passam despercebidos.

Pular refeições é um deles.

Por exemplo, há um padrão bastante frequente, que é a pessoa que pula o café da manhã, não faz lanches entre as refeições, come salada ou muito pouco no almoço... aí come mais no jantar e tem muita dificuldade em manter o controle alimentar à noite. Dá para entender a sensação que essa pessoa tem de que está comendo muito pouco, já que passa a maior parte do dia comendo muito pouco mesmo. Mas o problema é que, quando vai comer à noite, está com fome. E quando estamos com fome, o nosso corpo está ansiando por calorias! O que acontece? Por um lado, é verdade que a pessoa do exemplo está comendo apenas uma refeição substancial por dia. Mas por causa da fome, ela está comendo mais calorias do que seu corpo gasta durante todo o dia e, portanto, ganhando peso. Moral da história: para perder peso não se pode ficar com fome. Comer a cada 3 horas e incluir proteínas em cada refeição e lanche é uma forma de lidar com isso.

Comer fora de casa é outro problema para o emagrecimento.

As pessoas muitas vezes têm a impressão de que estão comendo de forma saudável, que fazem boas escolhas quando em restaurantes. Infelizmente, mesmo opções mais saudáveis em restaurantes são geralmente mais calóricas do que imaginamos. Se a pessoa come fora várias vezes por semana, aí está uma forte razão para não emagrecer ou até para engordar. Talvez um meio termo seja comer fora apenas em ocasiões especiais, comemorações... e tentar se planejar para comer comida feita em casa no dia-a-dia. E, é claro, continuar a fazer escolhas mais saudáveis quando for comer fora.

As calorias que bebemos são também uma questão séria e um frequente fator de engorda.

Suponha que a pessoa coma de forma correta, respeitando as porções e os intervalos entre as refeições, mas beba coisas calóricas: leite integral, suco adoçado, vinho... todos os dias. Em um ano, as calorias bebidas fazem grande diferença no peso! E a pessoa nem percebeu sua ingestão! Mesmo que sejam bebidas saudáveis, são uma faca de dois gumes, e devem ser controladas.

(baseado em post do blog Weighty Matters)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Terapia Cognitivo-Comportamental e perda de peso


Muitas e muitas vezes ouvi, no consultório: "se eu sei o que fazer, por que não sigo as recomendações?“. O fato de sabermos o quê e quanto comer é fundamental, mas não suficiente para que se tenha sucesso no emagrecimento. 
A verdade é que não basta saber, e não basta querer. O comportamento alimentar é muito complexo, com diversos determinantes, nem sempre claros para nós.
Segundo a Terapia Cognitivo-Comportamental, para que a perda de peso seja possível e, mais ainda, a sua manutenção, o autoconhecimento e uma maior clareza dos próprios comportamentos e motivações relacionados ao comer e ao corpo são o primeiro passo. São, então, necessárias diversas modificações comportamentais e cognitivas (de pensamento, crenças, imagens mentais), conseguidas num clima de trabalho conjunto e colaborativo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental é hoje considerada um tratamento de primeira linha para o excesso de peso. É uma intervenção objetiva, orientada por metas e prioritariamente voltada para o presente e para o futuro. Tem como objetivo implementar estratégias que auxiliam no controle e na manutenção do peso perdido, baseando-se na análise e na modificação de comportamentos e pensamentos disfuncionais associados ao estilo de vida do paciente.
Visando uma maior autonomia e autocontrole, trabalha-se em direção a mudanças no ambiente, mudanças de hábitos, de estilo de vida, de atividade física. Também se busca as mudanças de pensamentos e crenças em relação aos alimentos, ao corpo, a si mesmo, e uma maior compreensão dos sentimentos e da forma como estes influenciam o comer. Utilizam-se técnicas de controle de estresse e técnicas para melhorar as noites de sono.
Quando em grupo, a Terapia Cognitivo-Comportamental tem o benefício de um ambiente de apoio e cumplicidade, de troca de experiências, de identificação. Eu, particularmente, gosto muito de trabalhar assim.
 Que tal? Animou-se?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Desafio ao Chef



Tem, no suplemento Paladar, do Estadão, uma sessão que se chama Desafio ao Chef: são propostos a um chef alguns ingredientes (muitas vezes bastante exóticos e estranhos entre si), e ele precisa inventar uma receita a partir de todos eles. Pode acrescentar outras coisas, também, mas tem que utilizar todos aqueles que lhe foram propostos como principais. E tem que ser uma receita inédita.

Houve um desafio que transformou cupim, avocado, maxixe e cebolinha em um saboroso "Cupim ao molho de cabernet sauvignon e purê de avocado"; outro fez dos quatro ingredientes sugeridos (flor de abóbora, pistache, ricota e arenque) um très chic "Cannolo de ricota e pistache, creme de flor de abobrinha e aspic de arenque defumado".

Mas não é de culinária (ou somente de culinária) que eu quero falar! Quero pensar no desafio ao chef como metáfora para a vida: somos nós, também, desafiados com "ingredientes" oferecidos pela realidade de quem somos, pela própria experiência, pela nossa história. Muitas vezes, ingredientes "exóticos e estranhos entre si".

É isso que se é, é isso que se tem... o que fazer com isso? Em que transformar? O que construir?

Como os chefs que participaram da proposta do suplemento Paladar, a regra no desafio da vida é que não se pode negar o que se tem. Não adianta pensar que seria melhor se fosse... daquele outro jeito, sem essa ou aquela característica nossa que preferíamos que não existisse. Não adianta se ater ao fato de que tal ingrediente não combina com o resto, ou estraga o prato.

Muitas vezes ficamos nos questionando os porquês. Lamentamos não ser como o outro. Não ter o que o outro tem. Temos admiração e inveja do outro, frente ao qual nos sentimos diminuídos. Não por alguma atitude dele, mas por causa do nosso próprio modo de ver as coisas. Perguntamo-nos por que não nos foi dada tal sorte... e ficamos estanques.

Muitas vezes queríamos "arrancar" de nós certo jeito de funcionar que nos atrapalha muito. "Se não fosse por isso... eu poderia crescer!", pensamos. E ficamos lutando para eliminar o indesejado por completo, pela raiz.

Qual o segredo dos chefs? Como fazer sentido e dar um nome a uma receita feita com ingredientes que nos são dados? E como fazer com que a receita seja gostosa e interessante? Antes de mais nada, os chefs consideram os ingredientes que têm! Não se questionam nem se lamentam: "por que me deram justo esses ingredientes?!" Pensam: COMO vou utilizar o que eu tenho para fazer algo legal e que me deixe satisfeito?

E não pensem que eles acertam de imediato. Como na vida, a cozinha é basicamente experimental!

Cada pessoa tem seus ingredientes, suas características, seu potencial, seus recursos. Isso é único! O sucesso do resultado de cada um depende da combinação (e re-combinação) criativa dos seus possíveis. E muito da satisfação ocorre antes do prato ficar pronto: vem do prazer de cozinhar!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Corpos de consumo



Achei interessante comentar aqui uma colocação de Lola:

Sabe, Lia, fico me perguntando, às vezes, o por quê de tanta luta contra "ser gorducho"...se toda a nossa maneira de viver atual leva para este caminho - ser mais gordo - como lutar contra a sociedade inteira para atingir um modelo ultrapassado? Acho que estamos passando por uma época de transição: sobrevivem os corpos que se adaptam à esta nova realidade! Ou, então, a sociedade se conscientiza e entra censura na mídia de alimentos, quebra-se os computadores e todos os carros para que as pessoas tenham que andar, ilimina-se o telefone sem fio, etc..etc..etc..Do jeito que estamos lutando hoje contra nós mesmos, é um pesadelo...nadamos contra uma maré e ainda nos sentimos culpados! Qdo socialmente os alimentos, assim como bens materiais, forem distribuídos de maneira igual entre as populações e indivíduos, aí talvez conseguiremos o verdadeiro padrão de beleza...Se não, daqui a alguns anos, penso eu, as populações serão divididas entre os obesos e os sub-nutridos assim como os podres de ricos e os miseráveis!

Pois é... o mesmo mundo que cria e alimenta nosso sedentarismo e hiperalimentação, exige de nós total responsabilidade pela adequação dos nossos corpos ao padrão de beleza idealizado. Ou seja, é um mundo que nos bombardeia com variedade, comidas altamente calóricas, facilidade de obter tudo "sem esforço" (delivery, por exemplo), e também oferece uma infinidade de tecnologias e "milhões de possibilidades" para alcançarmos o corpo perfeito: comidas light e diet, cirurgias, cremes, exercícios, dietas... E se há todas essas possibilidades de transformar o corpo, "só não é lindo quem não quer"... ou quem não tem "a menor força de vontade". Ter controle sobre o próprio corpo e alimentação, seja para emagrecer ou até para alcançar um status de "imortalidade", de um corpo sempre jovem e saudável, é sinal de força moral, de valor pessoal.

Em nome do corpo idealizado tomamos atitudes que extrapolam o âmbito da estética, e entramos em domínio político: fazemos escolhas de amizades, de admiração, de afeto, e, como não poderia deixar de ser, justificamos atos de isolamento, discriminação e exclusão social. A forma física é idéia vendida como garantia de felicidade e sucesso, de reconhecimento, de direito de amar e ser amado.

O corpo idealizado é o corpo do consumo. Os padrões de beleza são ditados pelo mercado, e são muito rígidos. Para ter o corpo da moda, muito esforço é necessário. Um esforço sobre-humano. Impressionante como o marketing (e, olhem, não apenas ele...) nos impõe desejos. Toca-nos no ponto, na ferida (quem não quer ser amado, reconhecido, admirado?), e cria necessidades. Necessidades que, por princípio, não devem nunca ser satisfeitas, pois é do desejar, sempre mais, sempre outra coisa, que esse sistema de consumo se alimenta.

É contraditório, até, se pensarmos que a mesma lógica (de consumo) que nos faz buscar ser diferentes, especiais, que nos deposita a responsabilidade por sermos individuais e com poder de decisão, é a lógica que nos transforma a todos num mesmo, sem particularidades, matando nossas diferenças. Quantas Barbies e Ken' s vocês viram por aí, hoje? Nas revistas que falam das celebridades, tem um montão deles...

Estamos presos nessa falsa liberdade de escolha, e no meio de tantas opções. Por onde começar a procurar a ponta do novelo, para desfazê-lo? Talvez o ponto de partida seja a noção de que a sociedade não nos determina de forma absoluta, no sentido de incorporarmos pura e simplesmente seus ditames. Na realidade, a relação indivíduo - sociedade é dialética: não somos apenas determinados, somos também determinantes. Pensemos nisto!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Lições tiradas de esforços passados

Nas suas tentativas anteriores de perder peso, o que efetivamente funcionou? Que atitudes, que dicas, que truques...? E o que não funcionou? Que tipo de dieta alimentar combina mais com você?

É realmente difícil de responder. O que guardamos de experiências anteriores é que "a dieta deu errado", ou que "deu certo só por um tempo". Levamos conosco, também, uma queda substancial no sentimento de auto-eficácia - não consigo levar adiante uma dieta alimentar, não sou capaz de persistir, sou impotente frente ao meu desejo e necessidade de perder peso, sou fraco, não tenho força de vontade... Desta forma, cada recomeço acontece a partir da estaca zero, e cada vez com menos combustível!

É importante usar a própria experiência quando queremos nos arriscar numa nova tentativa. Não é possível não termos aprendido nada nos nossos esforços passados!

Aqui vai um exercício de recapitulação, de conscientização. Consiste em preencher a tabela fazendo um histórico dos esforços anteriores. É importante tentar ser detalhado no preenchimento das duas últimas colunas. Quanto ao tipo de dieta, é especificar se foi com ou sem remédio, com orientação médica ou nutricional, se foi num grupo tipo Vigilantes do Peso, etc.

Espero que ajude!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

ESTRESSE E COMPULSÃO


O estresse ativa no cérebro um mecanismo hormonal que faz com que as pessoas comam doces, consumam drogas ou apostem em jogos de azar, segundo um artigo publicado na revista "BMC Biology".


Investigadores da Universidade do Michigan e de Georgetown, em Washington, realizaram um estudo onde injetaram em ratinhos de laboratório um fator que estimula a produção de corticotropina no cérebro, em níveis similares aos que se registam em seres humanos em situações de estresse.A corticotropina é o hormônio responsável pela biossíntese e pela secreção de certas substâncias do cortex.


"A substância cerebral do estresse triplicou a intensidade de desejo por alimentos com açúcar, por exemplo", assegurou o professor de psicologia da Universidade do Michigan, Kent Berridge.Este resultado explica porque é que as pessoas que sofrem de estresse têm mais chances de sentir desejos mais intensos por recompensas que se possam satisfazer de forma compulsiva com atividades que levam à sensação de prazer, como comer ou consumir drogas.


sábado, 9 de junho de 2012

Fome e Apetite


Há, essencialmente, dois diferentes sistemas motivacionais relacionados ao comportamento alimentar: o homeostático e o hedônico. As pesquisas que nos ajudam a distinguir (e a relacionar) tais sistemas têm se multiplicado, e um grande pesquisador na área é John Blundell, da Universidade de Leeds. Ele é um psicólogo especialista em fisiologia do comportamento alimentar, e atualmente estuda, entre outras coisas, o papel da serotonina no apetite, padrões alimentares e drogas anti-obesidade.

O sistema homeostático é regulado pela fome e pela saciedade. Se a pessoa passa o dia inteiro sem comer, por exemplo, e chega em casa morrendo de fome, sua tendência é ir direto para a geladeira e comer o que estiver a sua frente, até sentir-se "cheia". Esse comer, apesar de geralmente em exagero e rápido, é "comer homeostático".

O sistema hedônico, por sua vez, é regulado pelo apetite e pelas recompensas (prazerozas) decorrentes do comer. Supondo que a pessoa acabou de almoçar, volta para a frente do computador e se depara com todo o trabalho que ainda tem por fazer. Argh! Será que vai dar tempo? De repente, sente um desejo imenso de abrir a gaveta e de pegar um chocolate que sabe que está lá. Esse é o "comer hedônico", que ocorre por causa do prazer que aquele chocolate vai trazer naquele momento. Não tem nada a ver com fome ou com regulação energética do corpo.

São dois sistemas bastante diferentes. Ou seja, as moléculas e receptores responsáveis pela fome e saciedade são diferentes daqueles responsáveis pelo apetite e recompensa.

Clinicamente falando, tal distinção ajuda a pensar no melhor tratamento para determinado paciente que, por exemplo, come demais. Se for um "comer homeostático", precisamos corrigir seu padrão alimentar para resolver a fome. Se for um "comer hedônico", talvez tenhamos que ajudar o indivíduo a desenvolver estratégias - alternativas ao alimento - de enfrentamento que apaziguarão o "sistema do prazer". Eu acabo por ter como regra geral iniciar um tratamento com a reorganização do dia alimentar, de qualquer maneira. A ajuda de uma nutricionista é importante!

É fundamental nos lembrarmos que, biologicamente, os dois sistemas são interligados, e que o comportamento alimentar pode estimular características dos dois sistemas numa mesma refeição. Ou seja, as coisas se dão de forma bem mais complexa do que parecem nos exemplos que eu dei acima. Fome e apetite agem de forma conjunta! Basta notarmos que quando com muita privação alimentar, tendemos a atacar alimentos mais calóricos e mais gostosos, se tivermos escolha. Muito difícil estar morto de fome e atacar cenourinhas, se houver um pedaço de bolo ao lado!

Em seu blog o Dr. Arya Sharma cita um pesquisa recente de Saima Malik, da Universidade de McGill, em Montreal: Malik e colegas administraram grelina (chamado de "hormônio da fome", por estar fortemente associado ao "comer homeostático") em voluntários, e usaram um aparelho de ressonância para verificar quais partes do cérebro eram ativadas em resposta a fotos de guloseimas.

A grelina não apenas aumentou a sensação de fome, como era o esperado, mas também causou um incremento na atividade do sistema mesolímbico de recompensa do cérebro! E é esse o sistema que está envolvido nos comportamentos de adicção!

Como podemos ver, mesmo a grelina, sempre tão associada à homeostase, tem também uma ação no sistema hedônico!