sexta-feira, 15 de junho de 2012

Corpos de consumo



Achei interessante comentar aqui uma colocação de Lola:

Sabe, Lia, fico me perguntando, às vezes, o por quê de tanta luta contra "ser gorducho"...se toda a nossa maneira de viver atual leva para este caminho - ser mais gordo - como lutar contra a sociedade inteira para atingir um modelo ultrapassado? Acho que estamos passando por uma época de transição: sobrevivem os corpos que se adaptam à esta nova realidade! Ou, então, a sociedade se conscientiza e entra censura na mídia de alimentos, quebra-se os computadores e todos os carros para que as pessoas tenham que andar, ilimina-se o telefone sem fio, etc..etc..etc..Do jeito que estamos lutando hoje contra nós mesmos, é um pesadelo...nadamos contra uma maré e ainda nos sentimos culpados! Qdo socialmente os alimentos, assim como bens materiais, forem distribuídos de maneira igual entre as populações e indivíduos, aí talvez conseguiremos o verdadeiro padrão de beleza...Se não, daqui a alguns anos, penso eu, as populações serão divididas entre os obesos e os sub-nutridos assim como os podres de ricos e os miseráveis!

Pois é... o mesmo mundo que cria e alimenta nosso sedentarismo e hiperalimentação, exige de nós total responsabilidade pela adequação dos nossos corpos ao padrão de beleza idealizado. Ou seja, é um mundo que nos bombardeia com variedade, comidas altamente calóricas, facilidade de obter tudo "sem esforço" (delivery, por exemplo), e também oferece uma infinidade de tecnologias e "milhões de possibilidades" para alcançarmos o corpo perfeito: comidas light e diet, cirurgias, cremes, exercícios, dietas... E se há todas essas possibilidades de transformar o corpo, "só não é lindo quem não quer"... ou quem não tem "a menor força de vontade". Ter controle sobre o próprio corpo e alimentação, seja para emagrecer ou até para alcançar um status de "imortalidade", de um corpo sempre jovem e saudável, é sinal de força moral, de valor pessoal.

Em nome do corpo idealizado tomamos atitudes que extrapolam o âmbito da estética, e entramos em domínio político: fazemos escolhas de amizades, de admiração, de afeto, e, como não poderia deixar de ser, justificamos atos de isolamento, discriminação e exclusão social. A forma física é idéia vendida como garantia de felicidade e sucesso, de reconhecimento, de direito de amar e ser amado.

O corpo idealizado é o corpo do consumo. Os padrões de beleza são ditados pelo mercado, e são muito rígidos. Para ter o corpo da moda, muito esforço é necessário. Um esforço sobre-humano. Impressionante como o marketing (e, olhem, não apenas ele...) nos impõe desejos. Toca-nos no ponto, na ferida (quem não quer ser amado, reconhecido, admirado?), e cria necessidades. Necessidades que, por princípio, não devem nunca ser satisfeitas, pois é do desejar, sempre mais, sempre outra coisa, que esse sistema de consumo se alimenta.

É contraditório, até, se pensarmos que a mesma lógica (de consumo) que nos faz buscar ser diferentes, especiais, que nos deposita a responsabilidade por sermos individuais e com poder de decisão, é a lógica que nos transforma a todos num mesmo, sem particularidades, matando nossas diferenças. Quantas Barbies e Ken' s vocês viram por aí, hoje? Nas revistas que falam das celebridades, tem um montão deles...

Estamos presos nessa falsa liberdade de escolha, e no meio de tantas opções. Por onde começar a procurar a ponta do novelo, para desfazê-lo? Talvez o ponto de partida seja a noção de que a sociedade não nos determina de forma absoluta, no sentido de incorporarmos pura e simplesmente seus ditames. Na realidade, a relação indivíduo - sociedade é dialética: não somos apenas determinados, somos também determinantes. Pensemos nisto!

2 comentários:

Norah disse...

Concordo, Lia. Apesar de difícil, somos donos de nosso pp nariz. Todas as opções existem e cabe a nós escolhermos qual queremos seguir. Quem sabe, se acontecer uma onda de conscientização e as pessoas preferirem uma vida sadia, a mídia não irá mudar para agradar o público? Afinal, a mídia só oferece o que o público quer ouvir!

Manu disse...

A prisão no excesso de liberdade e opções é a pior... verdade, isso. Fico pensando no monte de cursos disponíveis, pós pós pós da pós...