quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Subir ou não na balança... eis a questão!




Ficar controlando o peso, de forma sistemática, ajuda ou dificulta o emagrecimento? Será que ajuda, dando pistas sobre o resultado dos nossos esforços, possibilitando a decisão de manter ou de mudar as estratégias? Será que atrapalha, aumentando as expectativas e a ansiedade, e também a fixação num único indicador de sucesso (o peso)?

Questão difícil.

Por um lado, sabemos que o peso em si não é uma medida muito exata de saúde. Existem outras variáveis, como a localização do excesso de gordura no corpo, por exemplo, que são até mais importantes. Ter uma alimentação saudável e ser ativo é recomendável em qualquer peso, e magreza não é sinônimo de longevidade.

Sabemos, também, que a preocupação exagerada com o peso é central na manutenção dos transtornos alimentares... leva a pessoa a fazer dietas restritivas e a ter comportamentos outros que acabam por atrapalhar a regulação normal do apetite. Subir na balança com muita frequência reforça tal vigilância e controle em relação ao peso.

Por outro lado, não se pode negar o impacto que o excesso de gordura tem na nossa saúde. Prevenir ou tratar a obesidade é fundamental!

Podemos argumentar que não se pesar é uma forma de fugir dos controles aversivos que nos ajudariam a tomar uma decisão a respeito da perda de peso. Não favorecendo a consciência do problema, vamos engordando sem perceber...

Uma pesquisa publicada em 2006 no New England Journal of Medicine mostra que, num período de 1 ano e meio, pacientes que tinham perdido antes disso por volta de 19 kg, quando se pesavam todos os dias, tinham menos chances de engordar 2.3 Kg ou mais. Ou seja, pesar-se de forma regular previne ganho de peso no período de manutenção.

Outra pesquisa, de 2007, no Journal of Consulting and Clinical Psychology, mostra que o hábito de subir na balança diariamente não tem efeitos negativos para a dieta, muito pelo contrário: ajuda a manter a restrição alimentar, diminui a desinibição ligada ao comer e diminui sintomas depressivos.

Ou seja, pesar-se regularmente é bom, mostram as pesquisas e a experiência. Particularmente, porém, não acho tão interessante tornar isso um hábito diário durante a reeducação alimentar do indivíduo e seu processo de emagrecimento. Acredito que isso aumenta, sim, a fixação com o peso. Muita gente fica obcecada com a balança! O peso varia demais, por causa de retenção de líquido, constipação ou uso de diferentes roupas. A tendência de que o indivíduo fique frustrado quando se pesa todos os dias é bastante grande. Aumenta a chance de abandono do tratamento.

Talvez seja interessante o intervalo semanal entre pesagens durante a perda de peso, e o intervalo diário durante a fase de manutenção. Acho que, também, subir na balança uma vez por mês no consultório do médico ou do nutricionista é bastante útil para manter a adesão ao tratamento.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Redescobrindo o prazer em comer


Neste fim de semana eu e meu marido fomos almoçar num lugarzinho novo pra nós. Foi meio sem querer, a escolha. Na verdade, foi totalmente por acaso! Passamos na frente do restaurante; chamou-me a atenção a decoração aconchegante, simples, colorida. Quis xeretar. Diminuí o passo e reparei numa cortininha de crochê colorida e nos garçons com aventais compridos, quadriculados. Fiquei com vontade de entrar. Lugar pequeno, sem barulho, as mesas no capricho. Todas as toalhas de mesa e guardanapos diferentes. Um cheiro gostoso de comida quentinha. No bufê, pratos coloridos, feitos com cuidado e carinho. Dava pra perceber.

Aquele almoço foi uma experiência e tanto. A gente fica tão habituado a comer em restaurantes por quilo, em praças de alimentação de shoppings, ou comidas congeladas em casa, que nos esquecemos que, em se tratando de comida, NÃO É TUDO IGUAL!!!!! Existem variações, preferências, temperos... um jeitinho especial de preparar... uma comidinha caseira... uma refeição cheia de memórias da infância e da cultura em que nascemos.

Nessa vida massificada, como fica o prazer em comer?!?

E você, permite-se ter prazer ao comer? Seus sentidos são engajados em cada refeição, ou você come sem nem perceber? Você come alimentos gostosos, que fazem com que você se sinta bem com seu corpo? Na hora mesmo em que come e também depois?

Imagine-se comendo de uma forma apaixonada, com muito prazer. O que exatamente inclui esse comer prazeroso? Imagine a cena... como seria? Isso varia de pessoa para pessoa, de refeição para refeição. Mas eu acredito que podemos levantar algumas coisas em comum na descrição de um comer com vontade, um comer gostoso e agradável.

Por exemplo, um sorvete de chocolate belga da Haagen Dazs, na casquinha, enquanto exploro uma cidade nova, de férias... hummmm...

Mas, pensando numa refeição de dia-a-dia, de hábito. Como seria, pra você, uma refeição prazerosa?

Tente imaginar a cena em todas as suas particularidades...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

sábado, 6 de setembro de 2008

Cérebro tem "sexto sentido" para calorias

Achei num artigo de divulgação científica da FAPESP, com esse nome, a idéia intrigante de que existe um valor reforçador dos alimentos mais calóricos vinculado às calorias, e não necessariamente ao gosto doce e apetitoso deste alimento. Quer dizer que reconhecemos as calorias diretamente, e não apenas através do gosto??? Muito interessante. Reproduzo aqui o que li. Mesmo um pouquinho longo, vale a pena ler!

O paladar desempenha um papel importante na busca dos animais por nutrientes, estimulando-os a procurar os alimentos mais calóricos. Mas, mesmo na ausência de qualquer estímulo gustativo, o cérebro é capaz de escolher o alimento com mais calorias, de acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

Utilizando camundongos geneticamente modificados para perder a capacidade de sentir sabores doces, os cientistas demonstraram que os animais dão preferência ao alimento mais calórico, contrariando uma das explicações mais recorrentes para o consumo exagerado de calorias.

Segundo os autores, o trabalho pode ter importantes implicações para a compreensão de causas da obesidade. Os resultados foram publicados na edição desta quinta-feira (27/3) da revista Neuron, com Ivan de Araújo como primeiro autor. O trabalho contou com a participação de outros brasileiros, entre os quais Miguel Nicolelis, professor titular do Departamento de Neurobiologia da Universidade Duke.


"O estudo sugere que pode ser ineficaz tentar diminuir o consumo de calorias por meio da substituição do alimento por uma versão menos calórica, mas com gosto parecido. Graças aos mecanismos cerebrais que regulam o comportamento ingestivo, a pessoa pode acabar, a longo prazo, preferindo a versão mais calórica", disse Araújo à Agência FAPESP.

De acordo com o cientista, que desde junho de 2007 está no Instituto John B. Pierce, ligado à Universidade Yale, o sistema gustativo provavelmente não existe para dar prazer, mas para ajudar o animal a detectar rapidamente a presença de alimentos calóricos na natureza. Por isso a versão "light" dos alimentos acaba não sendo capaz de ludibriar o cérebro por muito tempo.

"A recompensa não é o sabor, e sim a caloria. Não surpreende que esses mecanismos cerebrais, de alguma forma, priorizem o aspecto nutritivo e, desse modo, não sustentem o consumo de compostos menos calóricos a longo prazo", destacou.

Segundo ele, alguns trabalhos comportamentais já sugeriam que os animais mostravam atração por certos sabores, mas essa atração se potencializava quando os sabores eram combinados com altos teores de calorias.

"Uma das perguntas era se esse mecanismo, independentemente da palatabilidade, influenciaria o animal a consumir o alimento mais calórico. A outra era se os estímulos de recompensa, que respondem fortemente a tudo o que é palatável, responderiam também ao valor nutritivo mesmo na ausência da gustação. Ambas tiveram respostas positivas", disse Araújo.

Preferência pelo açúcar

Para responder como o cérebro e o comportamento respondem à situação de insumo de calorias sem estímulo gustativo, os cientistas recorreram a camundongos transgênicos incapacitados de detectar sabores doces.

"Esses camundongos eram desprovidos do gene que expressa a proteína codificante de um canal iônico presente nas células gustativas da língua. A presença desses canais iônicos é fundamental para a capacidade de os receptores gustativos transmitirem informação sobre os sabores doces para o cérebro", explicou Ivan de Araújo.

Os camundongos puderam escolher entre beber água ou uma solução de água com sacarose. Enquanto os animais normais apresentavam preferência pela água com sacarose, os geneticamente modificados se mostraram indiferentes.

Em seguida, os pesquisadores associaram um dos lados de uma caixa comportamental à presença ou ausência da solução de sacarose. Em um dia a solução era colocada no lado direito e o esquerdo permanecia vazio. No outro dia, água pura era colocada no lado esquerdo e o direito permanecia vazio. E assim por diante.

"Ao longo do tempo, os animais desenvolveram forte preferência pelo lado da caixa que fora associado à sacarose. Apesar de não detectarem o doce, eles lentamente começaram a mudar seu padrão de preferência em favor do lado que tinha a solução doce", disse.

Segundo o cientista, que graduou-se pela Universidade de Brasília e completou os estudos nas universidades de Edimburgo e Oxford, isso mostra, em nível comportamental, que o animal desenvolve preferência clara pela caloria mesmo na ausência de qualquer prazer específico ligado ao paladar.

"Depois fizemos o mesmo experimento substituindo a água com sacarose por uma solução de água com sucarose – um adoçante artificial utilizado no mercado. O animal normal gostava muito desse adoçante, mas os animais mutantes não mostravam preferência nenhuma quando não havia conteúdo calórico", disse.

Alterações hormonais

Após os experimentos comportamentais, os cientistas analisaram os padrões cerebrais dos camundongos, começando por uma microdiálise: obtendo pequenas amostras de fluido cerebral dos animais, mediram o conteúdo do neurotransmissor conhecido como dopamina.

"A dopamina é liberada por algumas áreas específicas do cérebro quando os animais e pessoas têm contato com estímulos sensoriais altamente atrativos – que vão desde alimentos palatáveis até imagens sexuais ou drogas. Queríamos saber se o sistema de recompensa permanecia ativo quando havia calorias, mesmo sem o componente sensorial", explicou Araújo.

Os animais geneticamente modificados, segundo ele, mostraram alto nível de emissão dopaminérgica quando consumiam a água com sacarose. Quando se tratava da água com adoçante, no entanto, os níveis de emissão não eram detectáveis. Nos animais normais, os níveis de dopamina aumentavam em ambos os casos.

"Depois disso fizemos ainda um experimento eletrofisiológico, mostrando que nas áreas em que existia liberação de dopamina os neurônios ficavam mais ativos durante o consumo calórico", contou.

Segundo o cientista, o "sexto sentido" dos animais para alimentos calóricos ainda não pode ser explicado, mas há algumas possibilidades plausíveis. Uma delas é que os hormônios dopaminérgicos presentes no cérebro seriam capazes de detectar receptores para insulina.

"O consumo de alimentos calóricos provoca mudanças hormonais no nível de glicose sangüínea, aumentando a insulina e alterando uma série de outros hormônios. As células cerebrais expressam receptores para muitos desses hormônios, em particular para os dopaminérgicos", apontou.

Outra possibilidade é que o cérebro detecte mudanças nos níveis sangüíneos de glicose por meio de determinados hormônios glucossensores. "Fisiologicamente e neuroanatomicamente existem caminhos para que isso ocorra. Ninguém demonstrou ainda que esses receptores nas áreas dopaminérgicas têm uma função, mas a maquinaria necessária para que isso aconteça existe de fato", afirmou Araújo.

Publicado pela Agência FAPESP (http://www.agencia.fapesp.br) em 27 de março deste ano, por Fábio de Castro,

O artigo Food reward in the absence of taste receptor signaling, de Ivan E. de Araújo e outros, pode ser lido no site da Neuron em www.neuron.org.