quinta-feira, 31 de maio de 2012

Avaliação psicológica pré-cirúrgica dos candidatos à cirurgia bariátrica: considerações.

Muitos pacientes chegam cheios de resistência ao consultório do psicólogo: decididos a fazer a cirurgia da obesidade e encaminhados pelo cirurgião, temem qualquer impedimento que possa surgir durante a entrevista, qualquer veto. Dá para compreender. Essa não é, de jeito algum, uma decisão fácil. No mínimo a pessoa carrega, em incontáveis expectativas, emoções difíceis de elaborar. Para muitos, a gastroplastia é a luz no fim do túnel; é, finalmente, uma oportunidade de renascer.

A primeira coisa a ser considerada é a postura do psicólogo. Mais do que nunca se faz necessária a capacidade de compreender o paciente a partir de sua própria perspectiva, a aceitação, o acolhimento, a compreensão dos próprios preconceitos. Há trabalhos interessantíssimos sobre a determinância que tem tal postura do profissional no sucesso do tratamento de obesos, seja daqueles que vêm em busca de acompanhamento clínico para emagrecer ou daqueles que são caso de cirurgia.

A história do paciente é investigada, contada por ele. Em particular, as questões relacionadas ao peso, às tentativas anteriores de emagrecimento, a relação com seu corpo, com os outros, enfim... Falamos aqui de um levantamento de dados e, muito além disso, de um processo narrativo que ajuda a ressignificar, integrar, relacionar...

Cabe dizer que não é incomum haver um desejo tão grande de emagrecer que a questão da saúde acaba ficando, digamos assim, em segundo plano. Para o paciente parece ser óbvio que ele terá atenção com sua saúde após a cirurgia. Mas não é tão óbvio assim. Umas das expectativas que pacientes relatam é, por incrível que possa parecer, "a de não ter mais que se preocupar com o que comer, com dieta". Fazem a cirurgia, começam a emagrecer, deixam o cuidado com a alimentação saudável "para mais tarde". Afinal, prestar tanta atenção no que deve, no que não deve comer, tornou-se por demais aversivo durante tantas tentativas anteriores fracassadas. Ao se ver emagrecendo, foca-se em "curtir" a novidade.

É sabido que a cirurgia bariátrica afeta o paciente de diversas formas. Ele precisa:
  • ser capaz de lidar com as restrições iniciais na dieta,
  • acostumar-se a novos hábitos alimentares que deverão ser incorporados de forma definitiva,
  • lidar com novas sensações e experiências corporais,
  • adequar-se à mudança de sua imagem corporal,
  • adquirir novos comportamentos de cuidado de si,
  • lidar com novas cognições e sentimentos,
  • adequar-se a um diferente estilo de vida,
  • lidar com mudanças inesperadas e significativas nos relacionamentos pessoais que costumam ocorrer com certa freqüência após emagrecimento importante.
Como o paciente lidará com tudo isso? Tem ele recursos psicológicos para dar conta de tantas mudanças?

Basicamente, na avaliação pré-cirúrgica, o papel do psicólogo será o de identificar os fatores de risco psicossociais vinculados à realização da cirurgia, como a presença de alguma psicopatologia ou de atitudes e comportamentos que sabidamente complicariam o ajustamento pós-operatório. A partir de tal avaliação, vai fazer recomendações ao paciente e à equipe visando alcançar os melhores resultados possíveis com o procedimento, a curto, médio e a longo prazo. O psicólogo vai também auxiliar o paciente quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e do pós-cirúrgico; vai ajudá-lo a tomar decisões mais conscientes e de acordo com seu caso particular.

O psicólogo irá avaliar, na entrevista com o paciente:
  • o senso de identidade,
  • a estabilidade emocional/humor,
  • a habilidade para compreender o risco da cirurgia e para dar seu consentimento de forma responsável,
  • as estratégias comportamentais que possui em seu repertório para lidar com situações diversas e difíceis,
  • a disposição a aceitar o suporte necessário,
  • a resiliência, ou seja, sua capacidade (psicológica) de suportar o trauma cirúrgico e de lidar de forma positiva com os diversos estressores e ajustamentos associados às mudanças de estilo de vida após a cirurgia,
  • a motivação e
  • o compromisso de seguir com os cuidados de longo termo, aprender novas habilidades e aderir a um programa de estilo de vida saudável, que inclui tomar decisões acertadas em relação ao cuidado de si e à necessidade de colocar limites.
Ou seja, avaliação psicológica implica abordagem multifacetada, isto é, a abordagem da questão nas perspectivas comportamental, cognitiva e emocional, de desenvolvimento, da situação atual de vida, da motivação e das expectativas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

PENSAMENTOS SABOTADORES



A maneira como as pessoas pensam afeta o que elas sentem e o que elas fazem. Por exemplo, alguém com crenças autoderrotistas interpretará um grande número de situações como sinais de fracasso e atribuirá tal fracasso a sua incapacidade ou fraqueza. Não levará em conta outras possibilidades - de que a situação era inevitável ou de que existiam soluções viáveis.

"Eu não consigo" é um bom exemplo de como este tipo de pensamento gera rigidez de atitude: "de que adianta agir se já sei que não consigo"? A mesma pessoa pode criar para si situações muitos diferentes - de muito boas oportunidades a momentos muito ruins - dependendo de como pensa.

A Terapia Cognitiva baseia-se no pressuposto de que se as pessoas aprenderem a pensar mais realisticamente, poderão se sentir melhor e alcançar mais facilmente suas metas. Temos muitos pensamentos automáticos disfuncionais (ou pensamentos sabotadores) que nos 'prendem' em sentimentos de tristeza, ansiedade ou impotência, ou minam nosso autocontrole.

No caso de quem precisa perder peso, pensamentos sabotadores muito comuns são:

Não tem problema se eu comer isso, porque...

Comer isso não vai fazer diferença...

É muito injusto eu não poder comer o que quero, ter nascido assim...

Já que exagerei um pouco, não adianta continuar, vou comer o que eu quiser o resto do dia.

Não posso desperdiçar alimentos.

Não adianta fazer dieta, tenho tendência a engordar.

Minha amiga vai pensar que sou mal educada se não comer o bolo que ela fez.

Não suporto estar com fome, nem ver algo delicioso na minha frente sem comer.

Ou seja, temos prontinhos em nossas mentes justificativas e motivos muito fortes e convincentes para comer o que não se deve! Cabe a nós identificá-los e 'pagar com a mesma moeda': a cada pensamento sabotador identificado, temos que tirar da manga uma resposta mais funcional e adaptativa. E repeti-la a cada situação, com persistência, pensando sempre nos motivos que se tem para perder peso.

Somos nosso próprio diabinho e nosso próprio anjinho!