terça-feira, 18 de outubro de 2011

Livro: O Estômago Possuído





Para demonstrar como o Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) pode destruir o cotidiano de uma pessoa, os doutores Alfredo Halpern e Adriano Segal deram vida a Simone, uma jovem geniosa que sofre com crises de descontrole alimentar - o seu estômago está possuído. O drama que a personagem vive retrata a dificuldade enfrentada no dia a dia pelas pessoas que sofrem de desconfiança dos familiares, sobrepeso, desequilíbrio emocional, falta de confiança, entre outros. Para mudar de vida, Simone tem de ser disciplinada a fim de vencer a batalha pessoal e exorcizar de uma vez por todas esse inimigo íntimo. O livro conta com uma análise clínica do caso, em que são descritas orientações e esclarecimentos sobre o TCAP, com a finalidade de sempre se conseguir o diagnóstico correto.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O paciente não emagrece? Não é falta de força de vontade!

Qual o peso que nós, profissionais da saúde, em nossa prática, colocamos na educação e nas abordagens prescritivas, visando promover escolhas alimentares mais adequadas? O quanto acreditamos que a obesidade tem mais a ver com escolhas ruins em termos de alimentação e de estilo de vida do que com genética e outros fatores biológicos?

Ou seja, o quanto atribuímos a possibilidade de mudança de comportamento a uma escolha consciente do paciente?

Estudos mostram que nutricionistas e outros profissionais que tratam de pacientes obesos julgam a "falta de força de vontade" como o fator mais importante no fracasso dos planos dietéticos para perder peso. Esta concepção não apenas é contrária à compreensão atual da complexa neurobiologia do comportamento ingestivo, como também serve para estigmatizar e frustrar os pacientes.

O termo "escolha" implica decisão consciente; tem a conotação de que os seres humanos têm livre arbítrio para decidir entre comportamentos alternativos, independentemente das forças biológicas e ambientais. Em questões alimentares, isso não é de todo verdadeiro, ou seja, há muitos fatores ambientais e biológicos envolvidos na determinação do comportamento.

Bradley Applehaus e col. da Rush University Medical Centre, Chicago, publicaram recentemente no Journal of the American Dietetic Association, um artigo bastante interessante. Eles propõem que, ao invés de pensarmos a dieta saudável como uma questão de escolhas acertadas, seria melhor basearmos nossas estratégias de aconselhamento na compreensão das motivações do comportamento alimentar, particularmente nas questões da recompensa associada à comida (que envolve o complexo circuito mesolímbico do cérebro, como nas adicções), do controle inibitório (a motivação, a impulsividade e a auto-regulação inibitória são determinadas pela complexa neurobiologia do córtex pré-frontal) e do "desconto de tempo" (refere-se ao valor aumentado das recompensas imediatas quando em comparação àquelas que vêm em longo prazo).

O reconhecimento de como tais circuitos cerebrais interagem com (e como são responsivos a) situações e pistas ambientais podem talvez permitir estratégias de aconselhamento mais realísticas e efetivas.

No artigo, os autores dão vários exemplos de possíveis estratégias.

Por exemplo, a tendência que o circuito de recompensa do cérebro tem de incentivar a ingestão de comidas altamente saborosas pode ser frustrada eliminando tais alimentos do ambiente da pessoa e evitando a exposição aos mesmos através da adesão a listas de supermercado ou a compras online.

Da mesma forma, o controle inibitório pode ser facilitado evitando-se as situações desafiadoras (como buffets) e aquelas que enfraquecem tal controle (estresse).

A tendência a preferir recompensas imediatas pode ser combatida mudando o foco para metas mais a curto prazo, ao invés de metas a longo prazo.

Várias destas estratégias são já muito comuns nas recomendações dos profissionais de saúde quando se trata de ajudar o paciente na mudança de hábitos, mas o contexto e forma com que estas estratégias são apresentadas e discutidas com o paciente são muito diferentes.

Assim, ao invés de enxergar nesses comportamentos uma questão de escolha pessoal, o objetivo do aconselhamento, segundo os autores, é o de levar os pacientes a compreender o papel de sua predisposição genética e da neurobiologia, e a partir daí a necessidade de se adotar certas estratégias.

Desta forma, são explicados os comportamentos alimentares que promovem a obesidade sem invocar falhas de caráter (como a falta de força de vontade, por exemplo), e são enfatizados os processos que conferem vulnerabilidade ao excesso alimentar num ambiente "obesogênico", evitando a criação do estigma.

Do ponto de vista do profissional, muda-se de uma estratégia que enfatiza ajudar o paciente a fazer decisões difíceis,  mas necessárias à perda de peso, para outra em que se ajuda o paciente a minimizar o número de escolhas difíceis que encontram.

Será que a mudança proposta na estratégia realmente produz resultados melhores? Cabe experimentar! De qualquer forma, gosto de como os autores reconhecem o papel efetivo da biologia. Também gosto de como levantam a questão de que conceitos simplistas como os de "escolha pessoal" e de "força de vontade" estão muito longe de funcionar como estratégias efetivas.